terça-feira, 5 de agosto de 2014

O 13º Convidado/A Convidada

Mesmo em sua curta duração, esse é daqueles filmes difíceis de assistir. Uma espécie de novela radiofônica insossa, sem graça e extremamente datada. Absolutamente nada funciona! O mistério inexiste, as mortes são literalmente hilárias diante a produção precária, não há trilha sonora e o filme transcorre sem uma gota de charme e com excesso de humor. Vale - talvez - pela curiosidade de ver Ginger Rogers em início de carreira. Talvez nem por isso. Bem, talvez seja interessante para aqueles que dizem não existir filmes como antigamente. Sim, existem! O Cinema sempre teve filmes ruins. Se duvida, vá em frente. 1/5
The Thirteenth Guest / Albert Ray / 1932 / 69 min.

A Bela do Bas-Fond

Longe de ser o melhor filme de máfia, mas definitivamente o mais peculiar em sua grandeza, sua audácia em mesclar melodrama e máfia de maneira intrínseca. Nessa, Nicholas Ray entrega mais uma obra-prima: o advogado da máfia apaixonado por uma garota de programa. E o que acontece quando ele resolve não mais advogar? O melhor advogado pode deixar a máfia por uma mulher? Ótimos conflitos dentro de uma dramaturgia concisa, forte, humana - e ainda com direito a lindos números de dança. Provavelmente, o melodrama dos melodramas concebido por Nicholas Ray. Tudo isso carregado num Technicolor esplendoroso. Já disse que se trata de uma obra-prima? 5/5
Party Girl / Nicholas Ray / 1959 / 99 min.

Alma Sem Pudor

Uma mulher do interior maravilhosamente vivida por Joan Fontaine, que logo visa o namorado rico de outra moça. Enxerga nele a possibilidade de uma vida melhor para ela e somente ela. Entre idas e vindas, o melodrama do "cineasta do crepúsculo" não passa de um folhetim com ótima atuação de sua protagonista. No título original, Nascida para Ser Má. Bem, na década de 40, o adultério realmente podia ser visto como maldade. No entanto, hoje, um filme que aborda apenas isso nem Nicholas Ray consegue salvar. 2/5
Born to Be Bad / Nicholas Ray / 1950 / 93 min.

Amarga Esperança

Duas almas perdidas no tempo. Dois seres desnorteados em suas juventudes, transitando por este espaço denominado vida. Assim são o bandido Bowie e sua esposa e cúmplice. "Eu não sei nada sobre beijar", diz ela enquanto fogem. "Muito menos eu", responde ele. "Então vamos descobrir juntos". Esse diálogo entre duas pessoas ingênuas tentando ser como "as outras pessoas" - fala repetida ao longo do filme, num tom de esperança - representa o cerne dramático sobre o qual Nicholas Ray se debruça: pessoas que não se encaixam no padrão de normalidade da sociedade. Há muito a ser visto no longa, muito não dito (depois de esperar semanas pelo marido e ainda com a suspeita de seu falecimento, quando este chega em casa o encanamento inundou o local, simbolizando a tristeza imensurável vivida pela esposa). "Fui ao médico. Teremos bebê." "Ótimo! Era o que eu precisava agora!" "Você não está me vendo tricotar, está?" Sim, há um subtexto pungente nesta obra-prima que precisa ser redescoberta. 5/5
They Live by Night / Nicholas Ray / 1949 / 95 min.

Noé

Quem viu "Melancolia", do Lars Von Trier, pode se identificar com este trabalho de Aronofsky como sendo a sua versão Disney. Calma! Isso está longe de ser demérito. Acontece que o diretor abraça a história bíblica sem medo, com direito a guardiões, seres de luz presos na Terra pelo Criador e que há séculos tentam voltar pra casa. Sim, parece "sessão da tarde", mas o diretor sabe o que faz. A fábula de Noé e sua arca ganha contornos humanos ácidos, pungentes como só nós, animais com o poder da criação e destruição, podemos testemunhar. E Aronofsky opta por criar sobre a destruição em prol da recriação. A ideia de que o humano distorce tanto a possibilidade de paz (quem enxergou o policial armado em uma das cenas?) que apenas o extermínio da raça seria a possibilidade de renovação. Sim, uma possibilidade. 4/5 Noah / Darren Aronofsky / 2014 / 138 min.